quarta-feira, 5 de maio de 2010

Eu e a febre reumática

Hoje vou contar como descobri ser portadora de febre reumática, uma doença que, segundo os médicos, lambe os ossos, mas morde o coração. Acho importante falar sobre isso porque acredito ter sido vítima da desinformação. Caso houvesse descoberto cedo a doença, certamente teria sido curada e não existiriam seqüelas em meu coração. Como desconhecia que tinha esse mal, vivi algumas situações constrangedoras e outras até arriscadas, justamente por desconhecer, sem falar que deixei de fazer o tratamento adequado. Só comecei a usar a medicação depois que descobri o problema, evidentemente. O mais grave, porém, foi minha irresponsabilidade, considerando que não tomava em dia o principal medicamento que um portador de febre reumática é orientado a usar, a benzetacil. Um dos motivos era a dor... êta injessãosinha pra doer, outro era o desconhecimento mesmo...eu não sabia que era tão importante fazer uso desse remédio.
Não sei dizer exatamente quando a febre reumática me pegou, mas desconfio que foi lá pelos treze ou quatorze anos, quando tive um episódio de febre que durou vários dias. Era uma febre muito alta, de doer os ossos, acompanhada de garganta inflamada, dor de cabeça e afins. Eu não conseguia engolir e salivava muito. Fui levada ao médico, que diagnosticou amidalite ou faringite (não lembro bem) e inflamação das glândulas salivares. Fui medicada e fiquei boa.
Não se falou mais no assunto, porém, na adolescência, não só eu, como minha mãe, desconfiávamos de que havia algo de errado comigo. Cansava nas atividades físicas, era indisposta, vivia com dores no corpo, principalmente na cabeça. Por essa época adorava andar de bicicleta. Pedalava bastante e um dia resolvi levar minha mãe na garupa. Cansei muito, até que minha visão escureceu. Tive que parar para descansar, porque estava quase desmaiando. Voltei pra casa arrastando a bike.
Fui levada ao cardiologista duas vezes em épocas diferentes, porém nada foi constatado. Não falavam na minha frente, mas, eu sabia que era tachada de folgada no meu primeiro emprego. Acontece que comecei a trabalhar aos dezesseis anos em uma creche, e lá, de vez em quando, a direção organizava uma faxina geral no ambiente, da qual todos os funcionários tinham que participar. Lógico que serviço pesado eu não agüentava. Geralmente parava antes da hora, o que deixava alguns colegas chateados, porque consideravam injusto.
Na escola passei por uma situação constrangedora certa vez. Lembro-me que numa aula de Educação Física, foram realizadas provas práticas para as alunas, provas essas que consistiam em mostrar para a professora as técnicas do basquete que ela havia ensinado. Quando chegou minha vez, foi solicitado que eu fizesse um cesta. Acontece que eu não conseguia de jeito nenhum. Essa mulher me fez tentar umas vinte vezes. Eu estava fazendo os movimentos de acordo com a técnica, só não conseguia acertar a bendita cesta. Ao final, eu estava super cansada e não consegui mesmo. Primeiro, eu nunca tive aptidão para esportes. Segundo, eu já era cardíaca e não sabia. Poderia ter desmaiado ou até morrido, sei lá.
A verdade é que só fui descobri que tinha essa doença aos 21 anos, quando fiquei grávida pela primeira vez. Meu obstetra (fera!) desconfiou de batimentos cardíacos estranhos e me encaminhou para o cardiologista. Bastou um eletrocardiograma para detectar estenose mitral. O medico, o competente doutor José Cabral de Castro, aproveitou para verificar se havia febre reumática e... confirmado!
A gravidez foi de alto risco. Vivia passando mal. Na hora do parto tive pré-eclampsia grave, graças a Deus, tudo foi contornado e a Andreza Carolina veio perfeita. Logo depois (o ano era 1990), prestei concurso para o magistério. Como era bastante estudiosa, passei! Fiz meu marido largar o emprego para ir comigo. Fui com esposo e filha trabalhar no interior. Lecionava em dois horários (manhã e tarde). Sempre magérrima ,indisposta e com dores pelo corpo, eu ia vivendo. Vim transferida, depois de um ano, para a capital Macapá porque havia passado no vestibular para Licenciatura plena em Artes Visuais.
O cardiologista já havia me alertado para evitar gravidez. Claro que eu nem liguei, né? Em 1992 engravidei novamente. Dessa vez tudo saiu perfeito. Eu estava com uma situação financeira melhor. O parto foi com data marcada, a Amanda Roberta nasceu também perfeita e aproveitei para fazer laqueadura de trompas. Nos anos que se seguiram eu vivi relativamente bem. Inclusive passei dois anos indo e vindo de bicicleta para o trabalho e gostava disso. Acontece, porém, que quando minha caçula completou dois anos e meio, comecei a cansar muito, ter falta de ar, era magra e pálida. Cheguei a ficar no CTI por 48 horas com arritmia. Depois desse episódio fui encaminhada para operar, em Belém, no Pará. Troquei a válvula mitral por uma bio-prótese. A cirurgia foi perfeita. Passei um ano magrinha, mas recuperei a antiga forma e fui viver.

Nessa época mudei a cor do cabelo, comecei a me cuidar melhor, meu marido andava feliz (não deve ser fácil viver com alguém que de tempos em tempos tem que operar o coração, né?!). Tem que ser alguém muito paciente mesmo, caso contrário... Uma vez, logo após essa cirurgia, me perguntaram como é que a gente faz pra ficar bonita, qual o segredo, eu respondi: a gente opera o coração! Num outro momento tive uma crise de reumatismo e tomei corticóide por quarenta dias. Engordei uns quilinhos, mas até gostei.
Então quando realizei a cirurgia em 1995, já apresentava insuficiência valvular aórtica, mas era bem leve e os médicos não mexeram. O tempo passou e apenas de dois anos pra cá é que comecei a sentir palpitações, cansaço, sensação de desmaio. Paralelo a isso eu comecei a desenvolver síndrome do pânico, o que certamente teve a ver com a complicada separação que vivi em 2003, mas essa já é uma outra história! Fui encaminhada novamente para Belém para que fosse realizada uma nova cirurgia, dessa vez na válvula aórtica. Porém, chegando lá, o cardiologista, Doutor Manesck, que foi o mesmo da primeira cirurgia, concluiu que ainda não era o momento de operar. Estou bem. E claro que sinto algumas coisas chatas como palpitações, falta de ar, cansaço, mas é só de vez em quando, então, sigo rigorosamente a medicação indicada pelo meu cardiologista aqui do Amapá e vou vivendo. Mesmo com algumas limitações, o importante é viver! Esse período em que fui encaminhada para viajar e mesmo durante a viagem, foi marcado pela forte sensação da presença de Deus em minha vida... nunca senti isso tão forte como nesse momento. Vou contar aqui o que vivenciei, aguardem!

4 comentários:

  1. Nossaaa prima..tudo começou assim?Nossa..que triste!Mas agora vc é uma vencedora! Conte as trsitezas, mas conte as vitórias! Nosso Deus é o Senhor dos Exércitos! Médicos dos Médicos e faz o impossível por nós.Creia!Pq Ele te fez forte..olha o que vc já superou, né? Bjk..te amo!

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  2. Verdade...sou uma vencedora e a febre reumática é só um detalhe da minha vida. Em alguns momementos cheguei a esquecer que tinha esse problema. Até hoje, às vezes esqueço, até porque sempre confiei minha vida a Deus.Bjks....

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  3. olá!!! meu nome é daniele venho passado pela situação descobri a doença tarde hoje com 24 anos venho lutando contra essa doença com a benzetacil e um cirugia QUE FOI DEMARCADA 3 VEZES, MAIS LENDO SUA HISTÓRIA FIQUEI FELIZ DE SABER que você é uma vencedora, ISSO ME SERVIU DE GRANDE EXPERIÊNCIA PARA MINHA LUTAR.
    Obrigada!!!
    Deus te abençoe grandemente cada dia mais!!!!
    E eudescanso no Senhor Jesus Pela minha Vitória!!!!

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  4. oi..sou aqui do paraná de londrina e achei por acaso seu blog,não sei se você ainda posta nele,também sou portadora da febre reumática e também havia parado o tratamento,tenho a lesão no coração e tenho passado por uma fase complicada...hoje mesmo estou numa crise da febre..estou acompandando seu blog..caso queira um contato comigo,tenho uma pagina no g+ por nome de coisas de mulher...meu email é:dikasdakaren2gmail.com...um abraço e fica com Deus por que só ele pra ter misericórdia de nós...

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