sexta-feira, 14 de maio de 2010



Uma pessoa muito especial

O dia das mães já passou, mas ainda estamos em maio, e não posso deixar passar esse desejo de homenagear minha mãe com um texto. Quando penso nas qualidades dessa pessoa que me deu a vida, as palavras que me vem à cabeça são: proteção, trabalho, zelo, dedicação e coragem. Dona Zenaide sempre foi muito trabalhadora e sem dúvida era e ainda é superprotetora com seus oito filhos, quer dizer, com os nove, porque adotou um nono filho, bem depois dos oito primeiros já estarem crescidinhos.
Nasceu em Breves, no estado do Pará e aos vinte e poucos anos veio para Macapá, afim de trabalhar como doméstica. Como filha caçula que era, deixou meus avós inconsoláveis com a falta que fez por lá. Mesmo assim veio, cheia de coragem e de sonhos. Ainda bem que logo conheceu meu pai, um comerciante paraense também recém chegado de Breves e que havia escolhido Macapá para morar. Logo se casaram e não foi preciso trabalhar como doméstica por muito tempo. Seu nome, Zenaide, foi escolhido por meu avô, um homem que adorava ler e conhecia muitas histórias. Pelo que me contaram, havia uma história na qual a heroína se chamava Zenaide e a vilã, Zoraide, daí...
As minhas lembranças mais antigas são de minha mãe trabalhando, cozinhando em fogão a lenha, passando roupa com ferro de brasa, lavando roupa a mão, enfim, até hoje eu e meus irmãos nos perguntamos: como ela deu conta? E olha que ainda sobrava tempo para conversar com as vizinhas, passear com a família na casa de parentes, bordar, receber visitas, fazer flores de papel para as festinhas da escola e cuidar do quintal envolvendo toda sua prole na divertida faxina, quer dizer, quem nos envolvia mesmo na tarefa era meu pai. Imagine aquelas crianças limpíssimas, que tinham um chinelo para calçar no chão e outro para o quintal, se sujarem tanto? Depois que todo mundo descia para a limpeza geral, não havia saída, o jeito era ela aceitar.
Recordo de quando nasciam meus irmãos, era muito bom, porque meus avós vinham do interior para passar longa temporada com a gente. Minha avó cuidava da mãe e do bebê recém chegado e quase todo dia matava-se um frango bem gordo para a parturiente comer. É claro que o frango ficava irresistível, talvez por ter sido feito por uma avó ou talvez, porque estava todo mundo ansioso com a ocasião. Assim, todos nós provávamos um pouquinho na maior agitação. .
E como esquecer aqueles saborosos pratos que dona Zeca sempre fez todos os domingos? É... minha mãe foi sempre dona de casa zelosa e dedicada, mas, paralelo a isso era uma talentosa costureira ( agora não costura mais...diz que cansou) . Suas costuras eram bem feitas e bem acabadas, por isso tinha muitos clientes, todos fiéis. As épocas festivas como o natal, por exemplo, era um verdadeiro sufoco lá em casa, porque havia sempre muitas encomendas e quase nunca dava tempo de aprontar nossas roupas. Lembro dela costurando de madrugada e eu, com oito ou nove anos, do lado, deitada no chão lendo alguma coisa, já sonolenta. Ela sempre me pedia que não dormisse, esperasse mais um pouco, pois já estava acabando e não queria ficar sozinha na sala. Meu pai trabalhava em um bar e chegava altas horas. Meus irmãos menores dormiam. Havia sempre um rádio ligado e algum hit da jovem guarda tocando. Tenho muita saudade desse tempo e acredito que ela também, porque eram poucos filhos (não que eu não goste da agitação atual, quando reúne todo mundo, filhos, netos e bisneta... imagine!) o dinheiro era pouco, mas suficiente, a casa andava sempre limpinha e arrumada do jeito que ela gosta. Havia um quintal grande e cercado para os filhos brincarem e, o melhor, cheio de plantas frutíferas que deixava alguns vizinhos admirados, sempre a nos pedir mangas, jambos, goiabas, pupunha, graviola ou macaxeira. Na maioria das vezes, não precisava pedir, meu pais sempre davam frutas para os conhecidos Até hoje não entendo porque esses conhecidos e vizinhos não plantavam nunca. Aliás, hoje as pessoas quase não plantam em seus quintais e quando essa nossa casa da Avenida Presidente Vargas foi vendida, a primeira providência que o novo dono tomou, foi derrubar a maioria das árvores. Voltemos, porém, ao assunto, mãe. Era tudo muito, muito tranqüilo e puro naquele tempo. Hoje, ela diz que não se arrepende de ter se dedicado ao lar e aos filhos, mas, que adoraria ter estudado para ser professora. Chegou a lecionar por um tempo no interior. Foi escolhida porque tinha a letra muito bonita. Não dá para mudar o passado, mas aqui estamos quatro filhos professores. Acho que está no sangue. Costurar ninguém quis, porém, habilidades manuais, quase todos têm. Creio que também herdamos isso dessa paraense pequena, nem gorda nem magra, morena, de gênio forte, perfeccionista, vaidosa, ciumenta, chantagista às vezes, como quase todas as mães, mas ao mesmo tempo muito sensível e amiga. Quando jovem, ela adorava dançar, mas, parou quando mudou para Macapá e se casou. Hoje a timidez a impede de dançar, porém, continua trabalhando (bem menos, é claro!) e zelando por seu lar e por sua família como sempre fez e sempre gostou.

2 comentários:

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  2. Oh minha querida Tia..que saudades de vc..Vc é um exemplo de mãe vencedora. Porque além de ter ensinado o seus filhos respeito um pelo outro, continua com essa garra de mulher forte e dedicada.Parabéns! Vc é um grande exemplo de mãe para mim.Continue assim!!!Bj

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